Governo vê sinais de desaceleração e inicia revisão para baixo do PIB de 2025

Estratégia é mostrar que entende a necessidade de esfriar a atividade econômica para combater a inflação, que tem contaminado a popularidade presidencial

O governo já vê sinais de que a economia brasileira começou a desacelerar e está trabalhando na revisão de sua projeção de crescimento para 2025. Atualmente, o PIB esperado está em 2,5%, mas o JOTA apurou que o número tende a ser reduzido, ficando na faixa de 2 a 2,5%, após os indicadores negativos de novembro e sinais em dezembro, além da escalada do câmbio e dos juros, acompanhados de um choque na taxa Selic prometido pelo Banco Central.

O mercado trabalha com um PIB de 2,06%, na medição mais recente da pesquisa Focus, do Banco Central. Tanto o governo como o setor privado veem uma desaceleração da atividade econômica, mas os números estão se sustentando em um nível acima de 2% em grande medida por conta da expectativa de uma safra agrícola forte.

Apesar de alguns analistas já vislumbrarem um cenário de recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda do PIB) em 2025, essa hipótese ainda não é a do governo, mesmo com a revisão para baixo na previsão de nível de atividade.

Em meio a um consenso sobre a perda de ritmo da economia, uma constante pergunta que se faz nos círculos financeiros é sobre como o governo agirá caso esse processo seja mais intenso do que mostram as projeções. Se o PIB cair muito abaixo dos 2%, se houver recessão técnica e se o desemprego começar a acelerar, o governo vai partir para uma nova rodada de expansão fiscal ou parafiscal ou ambos? Ou vai aceitar o ciclo em nome de esfriar o processo inflacionário?

Dada a crise de confiança que se instalou nos últimos meses do ano passado, com seus impactos intensos sobre a taxa de câmbio e na inflação (corrente e expectativas), o que se nota é maior cautela nos bastidores e maior comprometimento do governo em aceitar a necessidade de resfriar a economia.

A fala do presidente Lula neste domingo, em vídeo no qual reconhece que a demanda ajudou a elevar a inflação, evidencia isso. Interlocutores da ala política também apontam que há maior disposição de lidar com uma economia sem a exuberância de crescimento dos últimos anos em nome de empurrar para baixo o IPCA.

A premissa dessa leitura é de que a inflação faz um estrago maior e mais rápido no curto prazo na popularidade do presidente e seu governo. Os dados mais recentes de pesquisas eleitorais e do agregador do JOTA só reforçam essa percepção.

Apesar de todo esse quadro ter diminuído o risco de o governo, caso a desaceleração seja mais intensa do que o esperado hoje, partir para o ataque nos campos fiscal e parafiscal, não é prudente dizer que esses riscos estão descartados, especialmente o parafiscal.

O que mudou mais recentemente é que o governo parece ser mais disposto a aguentar o tranco de números fracos de PIB, apostando que isso baixará a inflação e a trará para dentro da meta (ainda que não para 3%).

Se a freada no PIB for muito intensa, o risco de política econômica estará muito associado à postura do Banco Central. A expectativa no governo é que, caso nesse eventual quadro mais negativo de PIB, o BC parta para cortes de juros que ajudem a recuperar a atividade econômica mais à frente, sem comprometer o ano eleitoral.

Mas essa esperança pode ser frustrada por uma autoridade monetária que, mesmo comandada por um aliado de Lula, tem uma meta de inflação bastante ambiciosa, de 3%. E, se o BC frustrar a esperança de juros menores, o jogo político-eleitoral pressionará por ações. Como em economia e em política tudo está interligado, o ímpeto de usar expedientes compensatórios nos campos fiscal e parafiscal para contrabalançar uma inoperância monetária será mediado pelo espaço que houver nos mercados, o que dependerá muito do exterior e dos resultados do atual aperto monetário.

Há muito chão pela frente até 2026, mas tudo a partir de agora é mediado já se pensando no jogo sucessório, como o presidente Lula mostrou na reunião ministerial da semana passada.

A estratégia dominante do momento no governo é mostrar que entende a necessidade de contenção, inclusive mostrando uma maior prudência fiscal nesse início de ano, e que aceitará a economia esfriar sem sair do arcabouço. Esse quadro, porém, pode mudar, caso as circunstâncias se mostrarem muito mais adversas.

Ao mesmo tempo que já deu diversas mostras de pragmatismo nesses dois primeiros anos, com o arcabouço fiscal, a meta de inflação, a escolha de diretores do BC e o pacote recente de gastos, esse governo também já demonstrou que gosta de mais estado, mais gastos e de driblar amarras (como foi feito com a excessiva expansão fiscal entre meados de 2023 e 2024, o auxílio-gás, o pé de meia, entre outros).

A despeito de, no saldo, o pragmatismo de Fernando Haddad ainda estar ganhando dos ímpetos heterodoxos de parte do governo, os sustos dados em um ambiente internacional desafiador custaram caro. E dificultam a colheita do bem-vindo reconhecimento no governo de que a hora é de moderação na economia, o que demandará paciência, sobretudo do Planalto.

Fonte: Jota

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