O desafio do ESG no cenário de transformação digital

A relevância das questões relacionadas ao ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) está em alta e cada vez mais presente na sociedade e nas organizações. A Conferência das Partes da ONU (COP), realizada desde 1995, reúne, desde então, líderes mundiais para tratar sobre as mudanças climáticas. Para se ter uma ideia, são resultantes desse evento o Acordo de P aris (COP21) e a criação do mercado global de carbono (COP26). A próxima COP, 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), ocorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro deste ano, em Dubai, nos Emirados Árabes. Cabe lembrar que, em 1992, a Rio92 foi a primeira iniciativa na Organização das Nações Unidas (ONU) com a participação do setor privado.
 

O termo ESG é uma sigla em inglês que significa Environmental,Social and Governance ou, em português: Ambiental, Social e Governança (ASG). Sendo assim, ele corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. O termo ESG foi utilizado pela primeira vez em 2004, no relatório Who Cares Wins do Pacto Global da ONU, em que se procurou desenvolver diretrizes e recomendações sobre como integrar melhor as questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
 

A relevância do tema vem aumentando a partir dos anos 2000 em virtude das preocupações da comunidade científica com relação aos impactos do aquecimento global e outros eventos relacionados ao meio ambiente. Cabe destacar que os critérios ESG estão diretamente relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo Pacto Global e estão ligados não só à Organização das Nações Unidas (ONU), mas a várias outras entidades internacionais.
 

Para entender a importância da ESG, vale apresentar o que está relacionado a cada parte. No que se refere ao ambiental os tópicos são os seguintes: a mudança climática, o uso de recursos naturais, logística reversa, poluição e pegada ambiental. Já no social são abordados os direitos humanos, do trabalhador, acesso à educação, moradia, responsabilidade com clientes, impactos na comunidade, saúde, segurança e diversidade. Por fim, quanto à governança,os temas são os direitos dos acionistas, processos corporativos, assédio, discriminação, transparência fiscal, anticorrupção e gestão de riscos, por exemplo.
 

Os desafios para as empresas passam pelo desenvolvimento de procedimentos, processos e capacitações para a implementação efetiva do ESG, considerando as boas práticas corporativas e as iniciativas que envolvam os cuidados necessários para que todos os elementos sejam alcançados. Para o ambiental, deve-se ter cuidados com a preservação de fauna e flora (biodiversidade), poluição (água e ar), gestão de resíduos, uso eficiente de energia, desmatamento, aquecimento global, emissão de gases do efeito estufa (os principais são: o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso). Para o social, deve-se dar atenção aos direitos humanos e às leis trabalhistas, engajamento dos funcionários, responsabilidade social, relacionamento com a comunidade local, proteção de dados e privacidade (LGPD), diversidade, satisfação dos clientes.
 

Já para governança, é importante focar nas práticas anticorrupção, na composição do conselho, na existência de canais de denúncias de assédio, discriminação e corrupção, na transparência de dados, na relação com políticos e entidades governamentais, bem como na estrutura do comitê de auditoria.
 

Nesse sentido, cabe reforçar que o ESG está diretamente relacionado à transparência e responsabilidade corporativa. Cada vez mais as empresas necessitam elaborar seus relatórios, internos e públicos, de ESG. Dentre eles, destacam-se os seguintes exemplos: Relatório Anual Integrado, importante para as empresas supervisionadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários); o Value Reporting Foundation (VRF) e o Global Reporting Iniciative (GRI).
 

A adoção das boas práticas de ESG serão cada vez mais estrategicamente importantes para as empresas, já que a maioria dos investidores, além de buscar informações detalhadas sobre a saúde financeira das empresas nas quais pretendem investir, também se informa sobre a reputação corporativa. Trata-se de conhecer os riscos do negócio (duo diligence), aprofundar as análises para reduzir incertezas e riscos legais, socioambientais, financeiros, fiscais, de imagem e reputação, de compliance, de fraude, corrupção, entre outros. Outro fator é o comportamento do consumidor. Na era digital, eles estão cada vez mais esclarecidos e com acesso às informações que podem mudar seu padrão de consumo, levando em consideração as boas práticas corporativas. O ESG faz parte, direta ou indiretamente, da vida das pessoas e corporações. Basta entender que é necessário criar um círculo virtuoso, em que a educação para as boas práticas permeie toda a sociedade.
 

Mesmo havendo divergências na comunidade científica quanto, por exemplo, ao aquecimento global e as possíveis causas, existem muitos outros aspectos da ESG que são claramente visíveis para uma sociedade mais justa e equânime. Cabe uma análise criteriosa nos modelos e nos processos de gestão para adoção das melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
 

Existem vários desafios na jornada em busca do ESG, desde o cumprimento dos objetivos e metas estabelecidos pelos países em cada evento das COPs, assim como os estabelecidos para os ODS. É necessário, cada vez mais, aprofundar-se no tema para entender as implicações e aprender quais são as soluções mais viáveis, principalmente, considerando as desigualdades existentes entre os países.
 

No que se refere à sociedade, conhecer mais sobre o tema, entender como contribuir para êxito em nossas ações diárias, mudar o comportamento de consumo, aplicar iniciativas mais sustentáveis, como os 7Rs (repensar, recusar, reduzir, reaproveitar, reutilizar, reciclar e recuperar), por exemplo, podem ser um excelente começo. Quanto às organizações, é importante criar uma cultura organizacional em que o ESG faça parte de todas as atividades da empresa de modo transversal. Algumas iniciativas podem ser consideradas urgentes para alcançar a vantagem competitiva, os consumidores, os stakeholders e a sociedade. Dentre essas, pode-se relacionar as seguintes: a criação de estratégias, valores e propósitos norteados pelas boas práticas corporativas, orientação das suas capacitações valiosas, processos e mudança de cultura.
 

Na atualidade, um novo desafio se apresenta, a aplicação do ESG em conjunto com a transformação digital sem perder de vista os aspectos sociais e éticos que impactam diretamente a vida das pessoas. As pessoas devem estar no centro das atenções. O ESG e transformação digital estão diretamente relacionados, e as diretrizes de ESG devem refletir em um diferencial competitivo e estratégico do negócio e contribuir diretamente para a melhoria da vida em sociedade.

*Nayara Cardoso é professora de empreendedorismo da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio (FPMR).
 

Sobre a Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio
 

A Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio é uma instituição de ensino confessional presbiteriana, filantrópica, que se dedica às ciências sociais. A instituição é comprometida com a formação de profissionais competentes e com a produção, disseminação e aplicação do conhecimento, inserida na sociedade para atender suas necessidades e anseios, e de acordo com princípios cristãos.
  O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora e responsável pela gestão administrativa dos campi em três cidades do País: Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ). As Presbiterianas Mackenzie têm missão educadora, de cultura empreendedora e inovadora. Entre seus diferenciais estão os cursos de Medicina (Curitiba); Administração, Ciências Econômicas, Contábeis, Direito (Brasília e Rio); e Engenharia Civil (Brasília).

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