Petrobrás reduz intervalos de baixa até as eleições

Tornou-se prática a adoção de seguidas reduções de preços, em doses homeopáticas, a se estender até o dia 2 de outubro.

Com a estratégia eleitoreira de divulgar uma notícia positiva a cada semana, a poucos dias das eleições, a Petrobrás reduziu os intervalos de rebaixamento dos preços dos combustíveis. Sob a presidência de Caio Paes de Andrade, tornou-se prática a adoção de seguidas reduções de preços, em doses homeopáticas, a se estender até o dia 2 de outubro.


Somente na gasolina, nas refinarias, foram anunciadas quatro quedas de preços, desde 28 de junho, quando Paes de Andrade assumiu a Petrobrás. Nesse período de dois meses e meio a baixa acumulada foi de 18,8%. Novas reduções fatiadas na gasolina são esperadas para os próximos dias.

No caso do diesel, é a terceira redução no preço do produto na atual gestão da Petrobrás, considerando a queda de 5,78% no preço médio do litro do diesel, que entra em vigor nesta terça-feira, 20. No período, o combustível acumula queda de 12,4%.

“Critérios técnicos de alinhamento dos combustíveis ao preço de paridade de importação (PPI), que faziam parte do discurso oficial, tornaram-se secundários diante da pressão do Planalto e da conveniência eleitoreira”, afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. Ele observa que, para atender o mercado de diesel da Europa, as refinarias americanas e europeias estão usando mais petróleos árabes. Esses óleos têm menos parcelas pesadas, ou seja, para cada barril produzem mais naftas e gasolinas e menos diesel do que os petróleos médios russos.

“O resultado é que o diesel se mantém a 50 dólares mais caro que o barril de petróleo Brent ou WTI e a gasolina voltou para 10 dólares acima do petróleo. Essa diferença acima é chamada de custo de cracking. Isso significa que o diesel não vai cair no mercado internacional e ainda pode faltar”, destaca Bacelar, citando dados da área econômica da FUP. Ele lembra que o Brasil importa entre 25% e 30% de suas necessidades de diesel.

De olho nas eleições, o governo tenta correr atrás do prejuízo, depois de três anos e oito meses de altas recordes nos preços dos derivados, reajustados com base no PPI. No governo Bolsonaro, a gasolina, na refinaria, subiu 118,4%, o diesel, 165,9%, e o gás de cozinha, 109,3%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP). Enquanto isso, o salário mínimo teve reajuste de apenas 21,4% e a inflação medida pelo IPCA acumulou 25,3%.

Cloviomar Cararine, economista do Dieese/FUP, compara o comportamento dos preços dos combustíveis, na refinaria, no período dos quatro presidentes da Petrobrás do governo Bolsonaro, inclusive o atual. Ele observa que a gestão de Paes de Andrade muito se assemelha à de Roberto Castello Branco (o primeiro presidente da Petrobrás do governo Bolsonaro, demitido após dois anos no cargo) quanto à rapidez nos repasses das variações dos preços do barril de petróleo, em real.

“Porém, com Castello Branco, as seguidas e imediatas alterações de preços foram sobretudo para cima. Com Castello Branco (01/01/2019 a 10/04/2021), a gasolina subiu 71,1%, o diesel, 44,5% e o gás de cozinha 65,9%. Com Paes de Andrade, os reajustes são para baixo, estimulando a pressa nos anúncios. Já as administrações de Joaquim Silva e Luna e de José Mauro Ferreira Coelho (que ficou apenas dois meses no cargo), esperavam mais tempo para adotar correções internas de preços, após as altas do barril lá fora”, diz Cararine. No período Silva e Luna (16/04/2021 a 09/04/2022), a gasolina teve reajuste de 46,1%, o diesel de 62,7% e o gás de cozinha, 32,1%.

Fonte: Petrobras – Preço na refinaria

Elaboração: Dieese/FUP

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