Precificação dos serviços jurídicos: Inteligência Artificial e o Fim do modelo de débito por hora

Como alguém que constantemente observa e analisa os movimentos e tendências que norteiam o desenvolvimento do mercado jurídico, estou profundamente imerso nas transições e inovações que estão modelando o futuro da advocacia. O advento de tecnologias avançadas, especialmente a Inteligência Artificial (IA), não só tem remodelado o modus operandi da profissão, mas também os paradigmas tradicionais de precificação que têm sido o padrão por décadas. A equação está mudando; a métrica de valor está evoluindo, desafiando a advocacia a repensar e reestruturar a forma como precifica seus serviços.

Durante anos, o débito de horas foi a base da precificação dos serviços jurídicos. Contudo, a incorporação da IA e tecnologias correlatas está desafiando esse padrão. Com eficiência ampliada e produtividade maximizada, as horas trabalhadas deixarão de refletir adequadamente o valor do trabalho realizado. A economia no débito de horas, uma consequência direta da automação e eficiência tecnológica, convoca um reajuste no modelo de remuneração tradicional.

Esse é o desafio iminente para a advocacia nos próximos anos. A contribuição para o cliente transcende as métricas quantitativas de tempo; agora, reside na qualidade, inovação e valor agregado que os serviços jurídicos oferecem. Este cenário emergente exige um afastamento do convencional para adotar modelos de precificação mais dinâmicos, flexíveis e refletivos da entrega de valor tangível e intangível.

A integração da IA na prática jurídica não é apenas sobre automação; é sobre ampliação. Ampliação da capacidade humana, da inovação e da entrega de soluções jurídicas customizadas que se alinham estrategicamente com as necessidades e objetivos específicos dos clientes. Em uma era onde a personalização é primordial, a advocacia está convocada a se transformar, adotando uma mentalidade onde a precificação é tão dinâmica e personalizada quanto as soluções ofertadas.

Então, como a advocacia pode navegar nesta transição? A resposta pode estar em adotar estratégias de precificação estratégicas, um movimento audacioso que leva em conta a multiplicidade de fatores que definem o valor. Não é mais suficiente debitar pelo tempo; agora, é preciso debitar pelo impacto, inovação e valor estratégico.

Um dos cenários futuros na precificação dos serviços jurídicos pode ver a adoção de modelos de precificação baseados em valor. Aqui, cada serviço é avaliado com base em seu valor intrínseco e impacto para o cliente. Este modelo reflete uma transição da quantificação do tempo para a qualificação do valor, onde a profundidade, amplitude e impacto do serviço oferecem a métrica definitiva para a precificação.

Além disso, podemos antecipar um aumento na adoção de modelos de assinatura e pacotes de serviços. Ao invés de debitar por hora, os escritórios de advocacia podem oferecer pacotes de serviços personalizados ou modelos de assinatura que proporcionam acesso contínuo a consultoria jurídica e serviços. Este modelo não só oferece previsibilidade na precificação para os clientes, mas também permite aos advogados focar na entrega de valor ao invés de contabilizar horas.

A introdução de IA também pode ver o surgimento de modelos de precificação algorítmica, onde a IA é usada para determinar a precificação com base em uma série de fatores, incluindo a complexidade do caso, o valor agregado para o cliente, e a inovação e criatividade empregada na entrega de soluções.

Estamos à beira de uma revolução na precificação dos serviços jurídicos, impulsionada pela integração da IA e tecnologias emergentes. Para os advogados, a regra é clara: adaptar-se, inovar e evoluir para garantir que a precificação reflita verdadeiramente o valor em uma era de transformação tecnológica incessante. A advocacia do futuro será definida não pelo tempo despendido, mas pelo valor entregue – um paradigma que promete redefinir não só a precificação, mas o próprio ethos da profissão jurídica.

Esta transição não é apenas inevitável, mas essencial para alinhar a advocacia com as expectativas emergentes de um mercado dinâmico e um cliente cada vez mais informado, exigente e discernente. Ao adotar modelos de precificação inovadores, a advocacia pode assegurar sua relevância, competitividade e valor em um mundo onde a tecnologia, inovação e valor agregado são os verdadeiros pilares de destaque.

Paulo Silvestre de Oliveira Junior é especialista em desenvolvimento estratégico de departamentos jurídicos e escritórios de advocacia. Formado em Gestão Estratégica (IBTA) e Business Innovation (FIAP), Paulo possui um MBA em Segurança da Informação (FIAP) e especialização em Inovação Corporativa e Estratégia Digital pelo MIT. Atualmente, é Head de Inovação e Desenvolvimento no Machado Meyer Advogados e fundador da IT Legal Experts – Innovation & Technology. Autor do livro “Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados”, ele também é co-autor da obra “Criatividade é comportamento… Inovação é processo”.

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